Fig.1 Casa em Bravães, em cima e casa de Ofir de Fernando Távora, em baixo.
Hoje apetece-me falar sobre um interessante fenómeno do mercado construtivo atual. Cada vez mais se vulgarizam as chamadas ‘casas de arquiteto’, num meio que ainda não está, na sua generalidade, culturalmente apto a compreender e valorizar arquitetura de qualidade (projetistas incluídos).
A produção arquitetónica rege-se por uma cultura que absorve e reinterpreta símbolos, transformando-os. A falta de criatividade, ou o facilitismo, ou a humildade, ou outra coisa qualquer tem levado a que os símbolos sejam seguidos ao pormenor, não vá a obra ficar incoerente, ou inestética, ou inadequada, ou inoutracoisaqualquer.
A necessidade de adaptação do trabalho dos projetistas à cultura local, e a própria cultura de cada projetista, fez com que nem sempre as obras resultassem em objetos desligados dos códigos que regem a formação arquitetónica. É comum identificar nas obras de arquiteto desta região uma referenciação direta a projetos de autores reconhecidos, numa possível tentativa de legitimar as novas obras.
O caso que mais gosto só podia ser em Bravães. Trata-se de uma casa desenhada por um arquiteto vianense que estudou na escola de belas artes do Porto, onde terá sido (muito provavelmente) aluno de Fernando Távora. Ora, o aluno seguiu o mestre quanto pode e meio século depois volta ao modelo aprendido de uma forma irrepreensível, como se pode ver pelo alçado que eu reproduzi a partir das peças desenhadas originais cedidas pelo proprietário.
Mas não ficamos por aqui, basta ter um cheirinho de cultura arquitetonica e os exemplos saltam-nos à vista como mosquitos num passeio de mota sem viseira.
As casa a baixo são exemplo disso. A primeira, em Gemieira, deve ter sida feita por um parente português do Frank Loyd Wright. A segunda, em Nogueira (igual a tantas outras eu sei) deve ser dum parente do Souto Moura.