CAMINHOS DOS LUGARES

A meio da minha dissertação de mestrado, que estuda os atores e os autores da arquitetura do quotidiano no vale do Lima, é com agrado que vejo o território difuso ser, cada vez mais, tema de discussão cientifica em arquitectura.
O último caso é o da revista unidade, que pretende que o seu próximo número debata o tema da ocupação complexa e fragmentada dos territórios portugueses, destacando o NO português. 

Caminhos dos lugares:
Colonização da cidade in-formal (RETIRADO DA PÁGINA WEB DA REVISTA UNIDADE)


O debate sobre o território contemporâneo confronta-se com paradoxos enredados numa estrutura de inegável complexidade material e formal. A paisagem do noroeste português, muito em particular, é exemplo dessa complexidade, de onde são perceptíveis marcas simultâneas de antiguidade e contemporaneidade que compõem um sistema prolixo comum.

As diversas áreas disciplinares que têm no território o seu principal objecto de estudo têm-se centrado, no caso português, no desenvolvimento da crítica em torno da cidade formal, ou consolidada e, muito em particular dos centros históricos, que retêm, associando-lhes sucessivas distinções de propriedade identitária, grande parte da atenção. Haverá, porém, um território devasso, extensivo e imensamente ocupado, com propriedade e relevância que deverá merecer, no nosso entendimento, a atenção da disciplina.
Lugares onde o modo de vida, a paisagem e tudo o que a compõe, acontece dentro de um sistema diverso e combinado de programas, funções e formas.
Tendencialmente ao longo da estrada, repetem-se os sucessivos acontecimentos, em lugares cuja forma perverte as convencionais definições do termo. Há que ter em conta a imensa ocupação, quase contínua, de uma terra com redes e relações de antiguidade incontestável. Como disse João Bautista de Castro, em 1763: ‘’são seus habitadores de fecundíssima propagação, e larga vida; e até nos tempos, que a natureza constitue estereis, são aqui fecundas as mulheres. Muitos exemplos, e casos ajuntou para confirmação desta raridade, a excellencia Gaspar Estaço, e Antonio de Sousa Macedo. Basta dizer que da gente innumeravel, que nao póde sustentar este Paiz, se tem povoado o mundo, e com especialidade o Brasil, e as Minas, e que he mais a gente, que a terra, onde não ha parte alguma, em que se não ouça tanger algum fino, e cantar hum galo. Parece toda a Provincia huma Cidade continuada.’’
Esta convocatória, Os Caminhos dos lugares: Colonização da cidade in-formal, pretende lançar a discussão sobre a forma contemporânea da extensa paisagem extra-muros.
É, por isso, simultaneamente, encontrar respostas para as questões que se lançam sobre o território europeu contemporâneo, de um modo geral, bem como para o problema da produção do espaço nos territórios de influência lusófona.